terça-feira, 8 de outubro de 2013

DIA NACIONAL DO SURDO É COMEMORADO COM APLICATIVO INCLUSIVO E AULA DE LIBRAS NA UNESP

Desde a inauguração da primeira escola para Surdos no país, em 26 de setembro de 1857 na cidade do Rio de Janeiro, a data é celebrada como o Dia Nacional do Surdo. Entretanto, neste ano a comemoração foi ainda mais completa por duas grandes novidades.

A primeira veio da UNESP, que a partir deste semestre, irá ministrar, a distância, aulas da Língua Brasileira de Sinais, conhecida como Libras, para cerca de 400 estudantes de diversas graduações como Pedagogia, História, Letras e Matemática, com a duração de um semestre. A nova disciplina objetiva o conhecimento da Libras, suas características básicas e prática; a identificação da diversidade linguística e cultura dos estudantes; a análise da importância de inclusão de pessoas surdas na rede regular de ensino e a construção de propostas práticas que busquem essa inserção.

Serão realizados encontros presenciais, atividades on-line disponibilizadas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), videoconferências e uma prova final escrita. Estarão dispostos, no mesmo ambiente, conteúdos e recursos de apoio ao ensino e aprendizagem como leituras, videoaulas, exercícios, fóruns de discussões temáticos, chats para dúvidas e esclarecimentos etc. Além disso, foi promovida no início de setembro uma semana de ambientação para que os alunos pudessem conhecer o novo espaço virtual.

De acordo com a coordenadora Elisa Tomoe Moriya Schlünzen, pesquisadora na área da Educação Especial e Inclusiva, é muito importante que os futuros profissionais e professores se apropriem dos conhecimentos básicos da Libras, pois disseminar o uso dessa língua é uma forma de dar voz e espaço às pessoas surdas. Para ela, mais importante do que respeitar a legislação é possibilitar uma comunicação, mesmo que inicialmente mínima, entre o professor e o discente surdo. “Por isso, Universidade e corpo docente devem possibilitar aprimoramentos nessa formação para a inclusão das pessoas surdas no ambiente escolar e na sociedade”.

Ela comenta, ainda, que o oferecimento dessa disciplina por meio da Educação a Distância é uma oportunidade dos discentes vivenciarem a modalidade, aprenderem a organizar o tempo de estudo e conhecerem as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) utilizadas como ferramentas de apoio ao ensino e aprendizagem.

Primeiro aplicativo de Libras – Já a segunda boa novidade para a comunidade surda do Brasil chega da região Nordeste. A startup pernambucana ProDeaf, lançou o primeiro aplicativo para smartphones e tablets capaz de traduzir fala em português para Libras, disponível gratuitamente para surdos e ouvintes.




O projeto é fruto de um investimento de R$ 500 mil, feito pelo próprio ProDeaf - com financiamento do Sebrae e do CNPQ. Além disso, a distribuição do aplicativo é totalmente gratuita, ação viabilizada graças ao patrocínio do Grupo Bradesco Seguros. para baixar, acesse diretamente de seu smartphone ou tablet o link http://prodeaf.net/instalar ou procure por ProDeaf na loja de aplicativos de seu aparelho.

Para avaliar o atual momento de divulgação da Libras, o Blog Traduções em Pauta entrevistou com exclusividade Ester Barbosa Fidelis, especialista em Ensino e Interpretação de Libras com Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado com surdos e intérprete de libras em cursos de nível técnico e na rede municipal de ensino.

Traduções em Pauta - Como você avalia a abrangência do ensino de Libras no Brasil?
Ester Fidelis - A divulgação da Libras de maneira geral tem crescido muito ao longo dos anos no Brasil, especialmente após a aprovação da Lei 10.436 que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão, além, é claro, do Decreto 5626 que regulamenta a Lei com todas as suas especificidades. O Ensino da Libras em si também cresceu muito, a partir do momento que se abriu um novo mercado de trabalho para intérpretes e professores de Libras, justamente visando atender à demanda de surdos pelo país quer na área da educação propriamente dita, principalmente com a inclusão, quer nos diferentes meios sociais como ferramenta essencial de acessibilidade.

TP - O que poderia ser feito para melhorar?
EF - Eu diria que ainda há muito a ser feito no sentido de aumentar a abrangência do ensino de Libras no Brasil, mas acredito que estamos a caminho de grandes melhorias. A comunidade surda tem lutado, principalmente no que diz respeito à inclusão versus Ensino Bilíngue. Ter a Libras como primeira Língua e o Português como segunda língua é o ideal, mas ainda há muitas disparidades de opiniões neste aspecto. A verdade, é que a inclusão vem sendo "implantada" de maneira amadora sem muitos recursos e preparo dos profissionais da educação. Muitos professores recebem alunos surdos em classes regulares sem saber nem por onde começar. Daí a necessidade de profissionais especialistas pra esse suporte. Entretanto, o surdo que é o mais interessado acaba não tendo voz nessas decisões de certa forma impostas pelo sistema de educação nacional, quando eles deveriam ser os primeiros a serem ouvidos. Eles devem ter o direito assegurado de escolherem livremente a educação que querem ter e nesse sentido temos muito a melhorar, porque talvez estejamos regredindo em certo ponto.

TP – Cite alguns avanços que já tivemos nos últimos anos?
EF - Muitos avanços foram obtidos ao longo dos anos. As leis são apenas um começo de tantas outras conquistas da comunidade surda brasileira. Socialmente, as pessoas parecem mais abertas e interessadas em conhecer e interagir com os surdos e na área acadêmica muitos nomes brasileiros têm se destacado com pesquisas essenciais na área da educação, interpretação e Linguística envolvendo os surdos e sua língua. Temos o Dicionário Trilíngue de Libras dentre outros Estudos Surdos organizados por linguistas da USP como Fernando Capovilla e Ivani Viotti, publicações em conjunto com a Feneis (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos) como a Coleção Libras em Estudo, organizada pela professora Neiva de Aquino que reúne artigos de profissionais ligados aos surdos dentre os quais pude contribuir com um artigo sobre a interpretação da Bíblia para a Libras. Esses artigos estão disponíveis gratuitamente no site da Feneis, vale a pena conferir: http://www.feneissp.org.br/downloadebook.php. Isso é só uma amostra do que temos avançado ultimamente.

TP - A nossa população é esclarecida para lidar com os surdos?
EF - Ainda há pessoas que ignoram a existência de surdos em nosso país ou possuem uma visão limitada de que são pessoas deficientes. É preciso entender que se identificar como surdo é pertencer a uma comunidade que partilha de uma língua e por sua vez de uma visão de mundo própria. As pessoas que realmente se aproximam dos surdos nos ambientes profissionais ou mesmo no contexto escolar inclusivo passam a desmistificar tudo aquilo que imaginavam ser a realidade do surdo, o que ajuda muito na disseminação de informações sobre a comunidade surda e a Libras em geral. O que temos que melhorar é justamente estar mais aberto ao diferente e pesquisar, ser mais esclarecido sobre o que é ser surdo, o que vai muito além da simples condição física.

TP – Ainda existe muito preconceito?
EF - Acredito que os preconceitos têm diminuído muito a medida que a comunidade surda tem se revelado mais e as pessoas tem tomado conhecimento da realidade dos surdos. Como o próprio nome diz, preconceito é ter um conceito prévio, antes de conhecer. Quanto mais as pessoas conhecem os surdos, o uso que fazem da Libras e que são pessoas sujeitas as mesmas questões que todos nós, conversam, estudam, trabalham, namoram etc. acredito que o preconceito vá diminuindo e os surdos são melhor vistos pelo que realmente são: Gente como a gente!

TP - Temos bons exemplos em outros países? Quais?
EF - Temos muitos exemplos em outros países! Gosto de pensar que o Brasil ainda está engatinhando, mesmo porque o país ainda é novo com pouco mais de 500 anos, mas se pensarmos nos Estados Unidos que é até um pouco mais novo, estamos muito longe dos avanços por eles alcançados, principalmente na educação. Os Estados Unidos possuem uma Universidade para Surdos (Gallaudet University), tem doutores surdos, Pós-doutores Surdos e dão valor à sua língua de sinais com estudos que dispõem de alta tecnologia. O Brasil busca fazer contato com esses exemplos no meio acadêmico, mas por outro lado ainda não se definiu com respeito a questões elementares como é o caso da educação inclusiva em contrapartida à educação bilíngue. Então como formaremos outros surdos para terem autonomia sobre os estudos sobre eles mesmos?
  
E para finalizar gostaria de trazer uma frase do O vôo da gaivota de Emmanuelle Laborit “Olho do mesmo modo como se pudesse ouvir. Meus olhos são meus ouvidos. Escrevo do mesmo modo que me exprimo por sinais. Minhas mãos são bilíngues. Ofereço-lhes minha diferença. Meu coração não é surdo a nada neste duplo mundo..."




  

3 comentários:

  1. LIBRAS, podemos dizer que é um assunto novo para muitos, mas com o desenvolvimento, tudo melhorará, estou fazendo o curso básico, muito bom, proveitoso, estou refém, cada dia uma descoberta... parabenizo a todos os surdos, e que todos uma hora possamos sentar e conversar, não importa a maneira da conversa, o importante é estarmos juntos.

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  2. Estou fazendo o curso... Sou fascinada por Libras...

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  3. Gostaria tbm, no momento LIBRAS está sendo disciplina obrigatória no curso de Licenciatura, mas quero dar continuidade, pois quero aprender cada dia mais.

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